Os agricultores paranaenses estão retomando o cultivo do algodão, uma cultura que já foi destaque no estado nos anos 1990 e que agora ressurge como alternativa rentável diante das variações de mercado e das dificuldades climáticas enfrentadas por outras lavouras.
O algodão é resistente à seca, exige pouca água e muitas horas de sol, características que se adaptam bem ao clima do Noroeste paranaense. Além disso, o solo fértil da região permite uma economia significativa na adubação em comparação com outras áreas produtoras, como o Cerrado, onde hoje se concentra a maior parte da produção nacional, principalmente no Mato Grosso.
“O plantio está crescendo muito no Paraná. É uma cultura que traz diversidade, ajuda na rotação e aumenta a renda do produtor rural”, afirma Marcio Nunes, secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento.
Embora a produção atual ainda seja pequena em relação aos anos de auge — cerca de 2,4 mil toneladas —, a demanda segue forte. A Associação dos Cotonicultores Paranaenses (Acopar) estima que seriam necessários 50 mil hectares plantados para atender o consumo interno. Em 2014, a estimativa era de 60 mil toneladas de pluma consumidas anualmente pela indústria têxtil do estado, que hoje depende da matéria-prima vinda de outras regiões.
Neste ano, apenas cinco municípios registraram produção comercial de algodão, sendo Sertaneja, no Norte do estado, o principal destaque. A cidade mais que triplicou sua área plantada entre 2023 e 2024 e aumentou sua produção de 601 para 2.095 toneladas. Com isso, o Valor Bruto da Produção (VBP) local saltou de R$ 8,8 milhões para R$ 18,3 milhões.
Além de Sertaneja, municípios como Assaí, Jataizinho, Andirá e Nova Santa Bárbara também estão apostando no algodão. A expectativa é que, em 2025, a área plantada no estado cresça dos atuais 584 hectares para cerca de 1,5 mil hectares.
Segundo Almir Montecelli, presidente da Acopar, a produtividade atual da cultura no Paraná é o dobro do que se tinha no passado e mais lucrativa que outras lavouras populares. “Hoje, o Paraná planta para colher 500 arrobas por alqueire, com um retorno maior que o da soja”, destaca. Ele afirma que alguns produtores já estão atingindo até 700 arrobas por alqueire, com alta rentabilidade.
Montecelli também explica que uma das grandes barreiras do passado, o bicudo-do-algodoeiro, hoje está mais controlada. “Enquanto em outras regiões são necessárias até 15 aplicações de inseticida, no Paraná se faz o controle com apenas sete, sem precisar de fungicidas.”
Além da rentabilidade, a cultura do algodão traz benefícios ao solo. Com uma safra bem-sucedida, muitas vezes nem é necessário investir em uma segunda safra, o que contribui para a preservação da terra e melhora o desempenho das próximas plantações.